Kerry King: Olha, para te falar a verdade nós nem incorporamos esse espírito de aniversário ainda! (risos) Nesse mesmo ano estamos completando trinta anos de carreira e vinte e cinco anos de lançamento do “Reign in Blood”, um dos nossos maiores lançamentos, mas mesmo assim ainda não pensamos em nada para celebrar essa marca. Há um tempo, pensamos em até lançar umdisco, mas vimos que não teríamos tempo, uma vez que ainda estamos trabalhando intensivamente na turnê de divulgação de “World Painted Blood”. Talvez mais pra frente pensemos em algo como um show ou algo do tipo, mas, sinceramente, por enquanto não fazemos idéia e nem planejamos nada!
Kerry: Bom, logo de cara posso te dizer que ao vivo estamos tocando bastante músicas dele. Pela primeira vez, se não me engano, estamos tocando quatro músicas de um disco recém-lançado, isso porque estamos ouvindo muitos elogios relacionados a algumas das músicas deste álbum. Então, como gostamos de tocar aquilo que os fãs querem ouvir, estamos executando esses sons, que têm tido uma boa receptividade ao vivo. Quanto às composições, eu compus mais canções neste disco! Eu sei que é melhor para oSlayer quando eu e Jeff (Hanemann) nos juntamos e criamos juntos, mas neste disco naturalmente eu pude compor mais, ele tem mais idéias minhas.
Em termos de conteúdo lírico, “Christ Illusion” continha uma temática bem voltada ao ataque à religião, enquanto em “World Painted Blood” apenas ‘Hate Worldwide’ e ‘Not of this God’ abordam isso o que dá espaço para outros assuntos, como o petróleo em ‘Americon’. Como surgiu a decisão de deixar de lado essa opção de composição já típica na banda?
Kerry: Para mim é sempre muito fácil escrever sobre religião porque isso nada mais é do que comédia para mim. Mas acho legal escrever sobre coisas que sejam mais relevantes para as pessoas que lerão e ouvirão as letras. Temas como política, guerras e outras coisas são legais de se trabalhar nas letras e também podem ajudar o fã a se interar sobre alguns assuntos. Resumindo, eu poderia escrever mal sobre a religião todos os dias, mas se tornaria chato. É legal variar.
Quando o “World Painted Blood” saiu, eu li você comentando em uma entrevista que as pessoas o comparariam com o “Seasons in the Abyss”. Por que você acha que eles são parecidos?
Kerry: Na verdade eu não sei por que eu falei aquilo! (risos) Digo isso porque não gosto de rotular um disco antes que ele saia e as pessoas possam opinar sobre ele. Mesmo porque isso pode causar uma expectativa errada nos fãs. Imagine, por exemplo, se eu rotular um álbum como sendo parecido com o Reign in Blood! Muita responsabilidade! (risos) Mas o “World”, eu acho que ele é mais equilibrado entre músicas cadenciadas e levadas mais thrash, por isso talvez o tenha comparado com o “Seasons in the Abyss”.
Falando agora sobre o Big Four, quais foram as impressões que você teve dessa ambiciosa turnê?
Kerry: Foi muito legal se encontrar com todo o pessoal das bandas! Fazer alguns shows ao lado do (Robert) Trujillo foi muito especial, ele é um grande amigo. Foi uma pena não podermos levar esse show para todos os lugares que gostaríamos. Acho que todo fã de metal deveria ter tido a oportunidade de nos ver ao vivo com aquelas outras três bandas de thrash.
Este ano aqui no Brasil teremos o Rock In Rio, onde o Metallica vai tocar. Bem que o Big Four poderia fazer parte do cast, não?
Kerry: Seria maravilhoso, mas infelizmente é quase improvável de acontecer. As quatro bandas precisariam ter as agendas livres na mesma época, o que já foi hiper difícil de conseguir durante a turnê que fizemos com o projeto há um tempo. E na época que o festival vai acontecer, o Metallica é o único que estaria disponível mesmo! Todas as outras bandas já têm compromissos agendados para cumprir as turnês de divulgação de seus álbuns.
Ainda sobre o Big Four, quando estava assistindo à transmissão simultânea da apresentação em Sofia, na Bulgária, pude perceber que nem todos os membros do Slayer subiram ao palco para fazer a jam com as outras banda em ‘Am I Evil?’ durante o show do Metallica, incluindo você. Por que você decidiu não se juntar?
Kerry: Olha, eu vou ser bem sincero com você e vai ser muito legal que os fãs possam ler isso. Muita gente tentou achar uma grande história, ou um motivo bombástico para a minha ausência ali, mas não há nada demais. Não foi porque eu não quis, ou porque estava brigado com alguém, eu juro! (risos) Tanto que em alguns shows, como em um na Califórnia, eu estava lá no palco, tocando com todo mundo. O que aconteceu aquele dia foi que eu estava totalmente ocupado. Tinha muito pouco tempo para trabalhar na edição do nosso show em Sofia, que seria transmitido para o mundo todo dentro de algumas horas. Como nenhum outro integrante da banda pôde fazer esse trabalho, eu me ocupei disso. Então até depois da uma da manhã eu ainda estava lá, ocupado com a edição. Eu gosto da ‘Am I Evil?’ e o James foi lá me chamar pra tocar, mas simplesmente não foi possível. Muitos tentaram achar um motivo ‘oculto’ na minha decisão, mas, pelo menos da minha parte, não houve!
Agora partindo para um tema mais recente, gostaria de saber como foi o processo de escolha para o guitarrista que substituiria o Jeff Hanemann em alguns shows, enquanto ele se recupera do problema de saúde que teve, após ser picado por uma aranha, e o por quê da escolha de Gary Holt, do Exodus, para ocupar o posto, seguido de Pat O`Brien, do Cannibal Corpse.
Kerry: De primeiro, pensamos em fazer a turnê sem o Jeff até que ele se recuperasse. Mas eu reparei um dia desses que se Gary recusasse o convite não teríamos idéia do que fazer, pois não sabemos se sem um outro guitarrista as coisas funcionariam de uma forma legal. Mas a escolha foi bem fácil: sou amigo do Gary há vinte e cinco anos! Ele é um cara muito legal, engraçado e, acima de tudo, é um puta guitarrista! Quando liguei para ele, ele mal me deixou terminar a frase e já me cortou com um ‘sim’ muito entusiasmado! (risos) Foi algo do tipo ‘Ei Gary, eu estava pensando se você gostaria de..’ ‘É CLARO QUE SIM, KERRY!’ (risos) Ele se deu muito bem no posto e ficou super à vontade durante os shows. Infelizmente ele não pôde realizar mais shows conosco porque tinha que cumprir agenda com a sua banda! Mas sou muito grato a ele pelo tempo que nos apoiou. Quanto ao Pat, foi uma indicação do próprio Gary. Ele também já me conhece há algum tempo, então também não houve problemas.
Sabemos que aqui no Brasil Jeff já estará de volta ao cargo. Quais as expectativas para esse show por aqui?
Kerry: Nem preciso dizer que é sempre maravilhoso tocar em seu país! Maravilhoso e louco ao mesmo tempo! Os fãs de metal brasileiros são incrivelmente selvagens e apaixonados pela música. Não digo isso somente em relação a um show do Slayer, mas em todos os shows. Acho que devido ao fato de eles não poderem ver todas as suas bandas favoritas sempre, devido a pouca freqüência com que elas vão ao Brasil, eles se emocionam e expressam isso da melhor forma a cada show de um ídolo que se realiza. É incrível, mal posso esperar!
A banda de abertura do show do Slayer por aqui será realizada pela banda brasileira Korzus. Você já conferiu o som deles ou esta a par de quaisquer outras bandas de metal daqui?
Kerry: Olha, tenho que ser sincero que se não fosse o Cavalera, eu não saberia de muita coisa sobre o metal brasileiro! (risos) É uma vergonha, mas infelizmente não conheço quase nada! Vou pegar para ouvir o Korzus!
Bom, para finalizar gostaria de agradecer pela entrevista. Engraçado que sempre que leio uma matéria sua na Internet me parece que as pessoas sempre tentam ‘polemizar’ suas respostas, fazendo com que você se pareça um cara de poucos amigos. Em minha opinião aconteceu exatamente o contrário aqui!
Kerry: Sem dúvida! (risos) Mas você sabe o por quê? Porque há uma diferença básica entre jornalista que quer informação, que é o seu caso, e jornalista que quer uma grande notícia bombástica. Muitos jornalistas, especialmente na Europa, ficam me perguntando coisas sobre as quais eu não quero e não vou responder e vez ou outra, acabo me irritando mesmo! Mas também, de vez em quando dou uma resposta bem simples, que não é bem aquela que eles gostariam de ouvir e, numa tentativa de tornar a matéria deles melhor, eles interpretam de uma maneira diferente o que eu disse, e transformam em uma frase de impacto ou polêmica. Isso acontece com jornalistas sensacionalistas, que, infelizmente, não são poucos. Eu é que agradeço pela entrevista!
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